02 Outubro 2013
Embora algumas pessoas que participaram de um recente encontro de três dias entre os bispos dos Estados Unidos e um grupo de jovens teólogos tenham criticado o evento como muito fechado, eles também disseram que o encontro rapidamente evoluiu para um ambiente colegial de diálogo.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 24-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em geral, disse um teólogo que participou do evento [intitulado As Tarefas Intelectuais da Nova Evangelização: Catequese e Teologia], os bispos no encontro deram uma sensação de "forte encorajamento" para uma maior conversação entre prelados e acadêmicos.
Os bispos "não estavam nos dizendo para ouvi-los", disse Gregory Hillis, professor assistente de teologia da Belarmine University, em Kentucky. "Sentimos que eles também estavam se encorajando a ouvir mais".
Hillis e os outros teólogos encontraram-se entre os dias 12 e 14 de setembro com 14 bispos no Santuário Bem-aventurado João Paulo II, em Washington. O encontro, que focou a interação entre os papéis da catequese e da teologia, foi organizado pela Comissão de Doutrina da Conferência dos Bispos dos EUA e pelos Cavaleiros de Colombo.
O evento fazia parte de um esforço multianual por parte dos bispos de encorajar o diálogo com os teólogos. Hillis e outros teólogos que conversaram com o NCR depois do evento elogiaram os bispos por sediarem o evento e por parecerem abertos a uma grande variedade de ideias durante as suas palestras e as sessões de discussão.
Mesmo assim, eles disseram que o fato de o encontro ter sido aberto apenas para acadêmicos selecionados pelos bispos era uma preocupação.
"Eu realmente gostei, porque foi uma oportunidade para um intercâmbio de escutas", disse Mara Brecht, professora associada de estudos religiosos no St. Norbert College, em Wisconsin. "Mas a questão para mim foi: quais vozes estão sendo intercambiadas aqui?".
Brecht, cujo foco de trabalho é o pluralismo religioso e as filosofias da religião, disse que o processo de seleção dos participantes significou que "muitas das pessoas que participaram não eram necessariamente pessoas que tenham uma relação de tensão com os bispos, o que eu acho que não é representativo dos teólogos católicos em termos mais amplos".
Mas ela disse que, assim como Hillis, ela achou o evento "extremamente gratificante" por causa da oportunidade para que os acadêmicos mais jovens se envolvessem em discussão com os bispos.
"Eles dedicaram tempo para ouvir os teólogos que estavam lá", disse Brecht. "Nesse sentido, eu me senti muito encorajada com o encontro".
Entre os bispos presentes no evento estavam o arcebispo John Nienstedt, da Arquidiocese de St. Paul e Minneapolis, e o atual presidente da Comissão de Doutrina dos bispos e cardeal de Washington, Donald Wuerl, que liderou a comissão de 2009 a 2012.
O foco na interseção da catequese e da teologia representa uma dinâmica que, às vezes, provoca tensão entre bispos e teólogos. Em questão está saber se os acadêmicos, que lecionam cursos de nível universitário e publicam em revistas acadêmicas, devem ser os principais responsáveis para ensinar os princípios da fé católica.
A Comissão de Doutrina dos bispos emitiu repreensões públicas a cinco proeminentes teólogos dos Estados Unidos desde 2005. Em várias dessas críticas, eles disseram que o teólogo em questão poderia ter causado alguma confusão sobre os ensinamentos oficiais da Igreja.
Hillis, natural do Canadá, concentra-se na teologia histórica e disse que "algumas questões muito difíceis" foram feitas aos bispos. Vários dos teólogos, disse, estavam interessados em saber "o quanto os bispos estão dispostos a que os teólogos continuem fazendo questões difíceis sobre alguns aspectos da doutrina da Igreja".
"Eu tenho a sensação de que o fato de que os teólogos podem e devem fazer isso acabou sendo entendido como um dado evidente", disse.
Brecht e outros teólogos disseram ter se inscrito para participar do encontro depois que os reitores das suas universidades ou faculdades foram convidados a indicar teólogos para o evento. Hillis disse que parecia que os teólogos participantes no encontro podem ter sido escolhidos entre aqueles que se candidataram por primeiro.
"A minha sensação é de que as primeiras 50 pessoas que se candidataram, entraram", disse. "Se eles tivessem olhado tudo o que eu já escrevi (...) eles não pensariam que estavam recebendo alguém que estava indo para bajulá-los".
Thomas Bushlack, professor assistente de teologia da University of St. Thomas, em Minnesota, escreveu em um e-mail que ele também "discordou publicamente de algumas das posições do meu bispo local, e o meu pedido, mesmo assim, foi aceito".
No evento, escreveu ele, "houve pontos de vista conflitantes e desafiadores expressados tanto por teólogos quanto por bispos, mas isso manifesta precisamente o quanto uma compreensão mais profunda é cultivada".
"Pessoalmente, eu consegui expressar as minhas preocupações sobre quantas questões políticas são (mal)tratadas publicamente pelos bispos, assim como as minhas reservas sobre a possibilidade de que teólogos acadêmicos sejam capazes de compensar a catequese pobre em outras áreas da vida da Igreja", escreveu ele no e-mail. "Eu acredito que esses comentários foram respeitosamente recebidos e ouvidos de uma forma que não poderiam ter sido se fossem feitos através dos habituais canais dos meios de comunicação".
Cada um dos teólogos que o NCR contatou elogiaram especialmente um discurso proferido à assembleia por Dom Daniel Flores, bispo de Brownsville, Texas.
Flores, que disponibilizou a sua palestra no seu blog pessoal depois do encontro [disponível aqui, em inglês], disse aos teólogos que o trabalho dos prelados e acadêmicos era "propenso a ser muito cerebral".
Citando às vezes escritores da Igreja como o papa do século VI Gregório, o Grande, e do século II, como Santo Irineu, assim como as passagens da trilogia Senhor dos Anéis, ele disse: "As pessoas realmente precisam sair mais".
"Se quisermos aprender o que Jesus quer dizer quando diz que temos que nos perder a fim de nos encontrar, é necessário que nós convidemos as pessoas para a experiência de perder e de encontrar", disse Flores.
Brecht disse que a abordagem de Flores foi "exatamente o tipo de abordagem que eu tenho nas minhas aulas, usando a imaginação literária ou envolvendo-se com a cultura pop para fazer com que os estudantes pensem teologicamente ou vejam coisas não familiares de formas familiares".
Bushlack disse que, depois de participar da conferência, está "cautelosamente esperançoso que esses recentes esforços por parte dos bispos possa ser um trampolim para um maior diálogo no futuro".
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Teólogos e bispos se encontram nos Estados Unidos para debater catequese e teologia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU